Desaprendendo a ser medíocre
- Malu Paes
- 22 de nov. de 2024
- 2 min de leitura

Eu sempre fui estranha. Bem estranha.
Pelo menos, foi o que me disseram.
Minhas perguntas são estranhas: afinal, ainda não sei por que raios a Terra não é meio grau mais inclinada para a esquerda.
Meus elogios são estranhos: mas realmente adoro como minha amiga arruma o cabelo parecendo uma sereia em arte nouveau.
Minhas palavras são estranhas: porém, 'aprecio' não é o mesmo que 'obrigada', que definitivamente não é o mesmo que 'mucho thanks'.
Meus interesses são estranhos, minhas reações, meus medos, minhas preferências.
Me acostumei a ser estranha, comecei a comemorar minha estranheza. A me deixar quebrar as regras que não faziam sentido para mim (principalmente gramaticais), usar meias na grama e na praia (sem sapatos ou chinelos), fazer crochet revendo Peter Pan pela milésima vez (a peça de teatro gravada), comer pão com pão (o melhor recheio).
Aprendi a ser estranha, diferente, especial, excepcional - a palavra que você quiser para 'não normal'. E aprendi que isso era bom!
É minha estranheza que me faz única, é como vou sair do meio da multidão.
Mas aí veio a internet.
Ah! Não passa um dia sem que eu veja um vídeo, um texto, uma foto, um áudio, que me mostre alguém sendo exatamente como eu sou.
Que raiva que me deu.
Todo o trabalho e terapia em aprender a ser estranha e, de repente, eu sou só um clichê.
Vários rostos me olhando pela tela do celular com o mesmo corte de cabelo, mesmo gosto por colheres pequenas, mesmo ódio de sertanejo universitário, mesma existência - só em fontes diferentes.
Não sabia mais o que fazer de mim.
Para me destacar, preciso ser ainda mais estranha? Ir ainda mais além do limite do meio da curva da média? Não quero ser medíocre, mas como não ser, se eu sou absolutamente comum na minha estranheza?
Maldita internet, trazendo um mundo de gente igual a mim, para mim.
Maravilhosa internet, trazendo um mundo de gente igual a mim... para mim.
Ser medíocre me permite ter conexão. Não estou sozinha mais.
Alguém, nesse mundo tão enormemente pequeno, me entende. Alguém compreende, acolhe, aprecia e celebra a mesma estranheza que sempre tive, fui, senti e sou. Alguém fala a mesma língua, enxerga as mesmas cores, dança os mesmos passos, chora as mesmas lágrimas. E esse alguém são vários alguéns.
Foi só me deixar ser estranha para descobrir que eu não sou.
Ainda bem.
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